Ainda no 'O Globo' de hoje, continua a perplexidade com o fato doloroso ocorrido na escola de São Paulo, onde uma criança de 13 anos se transformou em assassino.
"Ele estava com uma raiva muito grande", dizia a manchete de ontem. Hoje, a questão da reportagem sobre o mesmo tema é que o adolescente já dava sinais de que algo estava fora de lugar.
Infelizmente não podemos eliminar a agressividade, posto que é parte integrante da constituição humana, nem questionar aqui por quê crianças levam facas para a escola.
Como profissional de saúde mental, meu ponto de indagação é o que vinha sendo feito diante dos sinais. O ato extremo de matar apenas foi o desfecho trágico.
É imprescindível que se empreendam ações eficientes para atender aos gritos por ajuda, que estavam nos sinais. Entre esses, provavelmente o excesso de
indisciplina e o desrespeito às mínimas regras. Não seria apenas clichê incluir o excesso de Internet e por tudo que dali advém nesse aumento generalizado do aumento da violência. Infelizmente não há ineditismo nessa constatação. Mas parece que está falhando o controle sobre esse uso. Ali tudo acontece, tudo é possível e não há proibição. É o mundo, enfim, da falta de bordas.
Quando a essa realidade virtual se juntam comprometimentos emocionais, como parece ter sido o caso desse menino, o resultado pode ser desastroso. Não podemos contar apenas com os atos heroicos dos professores. Não podemos usar a constatação de que a Internet influencia. Precisamos é ter práticas mais efetivas de identificação das doenças emocionais de nossas crianças. Precisamos tratar das suas emoções adoecidas.
Um grito de socorro começa baixo mas pode chegar ao extremo, como neste doloroso caso. Que fiquemos atentos, cada vez mais. Para não sermos protagonistas apenas observadores da realidade que as manchetes vêm mostrando.
Maria Inês Neuenschwander Escosteguy Carneiro
Membro Efetivo da SBPRJ / Analista de Adultos, Crianças e Adolescentes
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