Sociedade Brasileira

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    • Por Miguel Calmon du Pin e Almeida
      • 26 de Jun de 2015

    Sobre a mesa redonda: “A psicanálise trata as Psicoses?”

    "Como muito bem observado por Nelson Goldenstein e Ney Marinho, nossos brilhantes debatedores, tratar convoca uma ambiguidade para dentro da pergunta: o que é tratar?"


    Antes de mais nada, gostaria de mais uma vez agradecer a todos os que prestigiaram com sua presença a reunião com que pretendemos ter aberto nosso ciclo de debates entre psiquiatria e psicanálise. A presença de todos vocês assim como a intensidade com que o debate se deu, marcam de forma importante a urgência da retomada deste diálogo.


    Quero começar justificando o título que demos à mesa: “A psicanálise trata as psicoses?”


    Alguns estranharam o verbo utilizado para fazer a pergunta. E com razão. Em grande medida a provocação da pergunta está no verbo. Como muito bem observado por Nelson Goldenstein e Ney Marinho, nossos brilhantes debatedores, tratar convoca uma ambiguidade para dentro da pergunta: o que é tratar? Tratar pode querer dizer coisas diferentes. E ao querer dizer coisas diferentes, tratar aponta para direções opostas, simultaneamente.


    Eu creio que seja a principal contribuição que a psicanálise traz para o debate: seja a reintrodução, já tão enfatizada em determinado momento de nossa história recente, da ambiguidade e do paradoxo como o mais próprio do humano. Ao contrário, o discurso científico se caracteriza por pretender expurgar de suas entranhas tanto a ambiguidade quanto o paradoxo – por muito tempo considerados “doenças da razão”.


    Em um movimento de báscula característico da história, a psiquiatria dominante em nossos dias, reagindo a toda a crítica que inscreve a loucura como historicamente determinada – Nelson, gostei muito do modo com que você assinalou os exageros cometidos pelos psicanalistas no estudo das psicoses -, no empenho de encontrar uma linguagem que possa ser compreendida e replicada em qualquer parte do mundo, eliminando assim toda ambiguidade de seu discurso, regulamenta o DSM 3, 4 e 5, com descrições que se pretendem unívocas e universais.


    Nelson Gosdenstein enfatizou em seu trabalho a diferença entre “normalizar” e “normatizar”: uma querendo dizer enquadrar os indivíduos em determinado modelo de normalidade, e a outra pelo empenho em considerar o que de singular há em cada um dos indivíduos na busca de um melhor equilíbrio.


    Ney Marinho seguiu o mesmo caminho, mas, e ainda et pour cause, tomando outra direção, ao incluir a loucura como forma de viver e apresentando sua prática de atendimento psicanalítico de pacientes psicóticos.


    Nelson falou de psicose; Ney de loucura.


    Nelson falou de medicina e psiquiatria; Ney de psicanálise e filosofia.


    Nelson afirmou que trata; Ney que investiga.


    Seus discursos são estranhos um ao outro? São contraditórios? Um recusa o sentido e o vigor do outro? Como é possível uma “coisa” ser o que é e seu oposto ao mesmo tempo? Ser e não ser ao mesmo tempo? Ser isso e aquilo ao mesmo tempo?


    Querido Nelson, quem nos dera saber ao menos um elefante que nos orientasse em nossas reflexões. Nem isso temos. O que temos, e isso me parece fundamental, é a loucura como própria da condição humana.


    Que Simão Bacamarte não nos deixe mentir!


    O risco de se afastar do estudo das psicoses traz imenso empobrecimento à psicanálise.


    Nem de longe podemos nos dar por satisfeitos por aquilo que mal começamos neste ciclo de debates.


    Esperando que possamos dar continuidade à nossa conversa,


    Rio de Janeiro, 26 de junho de 2015.


    Miguel Calmon du Pin e Almeida.


    O artigo de Nei marinho, apresentado nesta mesa, pode ser lido na sessão “publicações”, deste site