“Outro desafio é o que tentamos encarar com os temas do Congresso Internacional de Psicanálise de Boston, que irá tratar da técnica psicanalítica em um mundo cambiante. Como se adaptar a um novo mundo sem perdermos nossas referências? Não é tarefa fácil..."
MA: Fale um pouco sobre a sua trajetória profissional.
SN: Bem, depois de fazer medicina na UFRJ, com internato no IPUB/UFRJ, fui fazer dois cursos de pós-graduação: Aperfeiçoamento em Psiquiatria Geral e em Psiquiatria e Psicoterapia da Criança e do Adolescente, este na COI/IPUB, com forte influência psicanalítica. Na época, eu trabalhava como psiquiatra do Exército, no esquema CPOR, por 5 anos, onde aperfeiçoei bastante o trato como psiquiatra e psicoterapeuta. Ao final desta etapa, iniciei a minha formação psicanalítica na SBPRJ, que culminou com a formação como psicanalista de criança e adolescente nesse mesmo instituto. Mais tarde, fui fazer outra pós-graduação na UERJ, em ‘Direito Especial da Criança e do Adolescente’, com estágio no Juizado da Infância e do Adolescente. Tendo trabalhado em hospitais
apenas até finalizar o meu período como psiquiatra militar R/2, minha carreira foi primordialmente voltada para o trabalho como autônomo. Eu abri o meu consultório em 1981 e, até hoje, trabalho primordialmente como psicanalista. Como fruto de minha inserção no Direito, faço muitas perícias na área de Família, Órfãos e Sucessões, na qual a interdisciplinaridade de Direito e Psicanálise traz uma escuta diferenciada às questões jurídicas que surgem nos Tribunais. Por outro lado, fruto da minha verve organizacional, tenho sempre trabalhado nas organizações por onde passei: SBPRJ, Febrapsi, Fepal e IPA, tendo ocupado os cargos mais variados. Penso que o estímulo para isso veio do clima que encontrei na SBPRJ quando lá cheguei. Era um clima de assembleia permanente, muito democrático, com assembleias cheias e muita gente pensante. Fiquei muito impressionado com os debates que, mesmo acalorados, tinham uma abertura para o diálogo e uma profundidade de argumentações que nos faziam ficar até bem tarde no auditório! A intervenção da IPA quebrou esse clima tão frutífero, provocando todo tipo de reação. A minha foi adentrar cada vez mais no âmbito politico, entendendo que só na luta política se poderia mudar aquele estado de coisas.
MA: Você é vice-presidente da International Psychoanalytical Association – IPA. Como vê a SBPRJ dentro do cenário internacional de psicanálise?
SN: Em termos políticos, temos uma inserção muito forte, fruto dessa luta política por uma IPA mais democrática e aberta ao diálogo. Nossa participação nas últimas gestões, que culminou com a eleição do Cláudio Eizirik para presidente da IPA, foi e tem sido de interlocutores privilegiados e respeitados, mesmo por aqueles que não cultivam o mesmo entendimento sobre como gerir as coisas na IPA. Em termos técnicos, tenho ouvido muitos elogios a muitos de nossos colegas que se apresentam em Working Parties, Congressos e Jornadas Científicas. Nosso olhar, que se nutre de múltiplas fontes, parece-me despertar muito interesse e admiração. Ainda há pouca produção teórica de nossa parte, mas aos poucos vamos aumentando a nossa visibilidade para o mundo psicanalítico internacional.